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Niilismo
Muito já foi escrito sobre niilismo, porque para cada grande coisa boa na vida, precisamos de um oposto, e isso é a crença em nada: que nada vale a pena lutar, que nada pode ter nenhum significado, que o indivíduo e o mundo juntos são nada. Eu me refiro a isso como fatalismo por que, honestamente, se alguém acredita tão pouco - não mesmo nos prazeres de estar vivo, a mais básica das alegrias - então a morte é um presente e uma entrega. Se o seu destino é tão terrível, abrace-o, e morra bem. Talvez você possa convencer a si mesmo por tempo o bastante para grudar um dispositivo explosivo em si mesmo e, correndo em alguma orgia comercial, como um shopping durante o natal, detonar a si próprio, libertando os outros de um fatalismo ainda mais sutil que está entre nós. Niilismo, na minha visão, é a remoção de todos os valores para as coisas exceto o que eu chamarei de inerente, deixando esse termo para uma definição posterior. Quando as pessoas reclamarem sobre Satã, ou a guerra contra o terrorismo, ou a grande jornada pela igualdade, você pode olhá-los direto nos olhos e dizer "Essas coisas não tem valor, exceto o valor que damos a elas". Pela mesma moeda, quando as pessoas te dizem o quão importante é ver o último filme que foi lançado, ir àquela festa exclusiva, ou ter um carro importado, você pode igualmente dispensar as preocupações. Niilismo é a remoção de tudo exceto o inerente. É uma filosofia que é porta de entrada, como eu vejo, que quer dizer que ela é a realização inicial num curso de aprendizagem. Em contraste às filosofias "devotas" como o cristianismo, aonde todos que vão e recitam um juramento são considerados sábios, as filosofias de vida que não são uma charada abraçam visões esotéricas. O esoterismo diz que a sabedoria vem àqueles que a procuram em diferentes níveis; não há nenhum ponto inicial mágico a ser cruzado, depois que cada um possa escrever o sinal sagrado na testa de outra pessoa e assim ser considerado sábio. Ao invés disso, armadilhas do aprendizado infinito e de potenciais infinitos nos esperam. Quando uma pessoa aceita o niilismo, ela deu o primeiro passo desta iniciação, por remover todos os valores impostos externamente, incluindo os valores impostos por outros seres humanos. Nisso começa a descoberta. A maioria das filosofias do nosso tempo, tanto consagram alguma sabedoria absoluta universal como o 'Verdadeiro e Único Caminho' para moralidade e poder, ou de fato fazem o mesmo com o individual, colocando que "a realidade é qualquer coisa que você quer que seja". Essas não são filosofias tão extremas quando nos aproximamos da questão que ecoa através da eternidade, "O que é real/verdadeiro/significante?". Niilismo oferece um caminho para fora desse paradoxo, por afirmar que a vida é por si só, resposta à pergunta vital: 'o que é significante?' rende para "a vida é significante" e nos deixa perceber que a vida é um processo ativo que não pode ser quantificado em uma resposta exata, ou até mesmo numa resposta finita e tecnológica bem como "dinheiro". Ter uma boa vida é ter beleza, verdade e significado. Mas como definir uma boa vida? Se procurarmos por respostas absolutas, tais como a vida mais confortável possível, ou ter mais poder, ou mais dinheiro ou popularidade, nós acharemos coisas definidas superficialmente que não refletem muita satisfação, exceto materialmente. Faz mais sentido olhar para os anciões e dizer que uma boa vida é o preenchimento do destino, ou de tomar o lugar de alguém no inerente. Niilismo remove o senso de uma boa vida como algo que pode ser criado fora do indivíduo, mas também reconhece a fragilidade do indivíduo: nenhum de nós irá ver a "verdade" no sentido do que é mais certo, dado o mundo externo a nossa volta. Para dizer que isso não quer apoiar um "objetivismo" raso, bem como aquele de Alissa Rosenbaum ("Ayn Rand"), para quem o materialismo se tornou um objeto filosófico na tradição judaica em que ela foi criada, que apesar de sua característica de fé dualista que não vê nada de sobrenatural ou valor ideal sobre conforto material: poder, riqueza, estatura na comunidade. Essas filosofias do "objetivismo" tornam-se paródias de si mesmos, pois substituíram o significado da vida com significados para vida, transpassando a questão da vida na atualidade. O objetivismo do niilismo é mais próximo do que o da ciência ou das tradições religiosas anciãs dos Vedas: nós somos todos enclausurados no mesmo espaço, que opera de acordo com regras consistentes, e age previsivelmente sobre todos nós, mesmo que percebamos ou não. Uma outra forma de explicar isso seria quando duas pessoas brincam de pegar, a bola é jogada e segue um curso objetivo, independente se o apanhador tem suas mãos no lugar certo pra recebê-la. Se o jogador erra o seu lançamento, a bola vai aterrisar longe do apanhador, mas ele também pode compensar isso, tendo visto a bola se mover, e ainda apanhá-la. O movimento através da realidade externa é "objetivo", enquanto os pensamentos e percepções de jogador e apanhador são "subjetivos" e os dois nem sempre vem juntos; o jogo de apanhar é um jeito divertido de calibrar o sentido interno da realidade de alguém, que opera bem como uma máquina, previsivelmente de acordo com sua estrutura e os mecanismos de determinada circunstância. Marco Aurélio nos dá parte da charada:
Claramente que é um plano excelente, quando você está sentado em frente de quitutes e comidas à escolha, impressionar a sua imaginação de que isto é o corpo morto de um peixe, que é o corpo morto de um pássaro ou um porco; e de novo, que o vinho Falerniano é suco de uva e aquela vestimenta roxa uma lã de ovelha colorida com sangue de ostra; e falando se sexo, que aquilo é um atrito de uma entrada e meramente uma expulsão convulsiva de muco. Claro que essas são imaginações excelentes, indo ao coração de fatos atuais e os penetrando para ver o tipo de coisas que realmente são. Você deveria adotar essa prática através de toda a sua vida, onde as coisas dão impressão de serem muito plausíveis, descubra a sua nudez, veja através de seu valor barato, arranque a crença onde glorificam a si mesmos.
- Marco Aurélio, Meditações, VI, 13 Vagar no naturalismo da vida é ser obcecado com os signos do significado, e não com o significado em si. Num jogo de pegar, o que importa não é a qualidade da bola ou a sensação de vê-la ser arremessada, mas a habilidade de conseguir apanhar a bola e ainda conectar o movimento de jogador para receptor. Um niilista, iniciado no valor do não-valor, reconhece que enquanto nenhum objetivo ou subjetivo é supremo, uni-los é um valor no inerente, por que faz o individuo mais forte ao interagir com "a realidade final", ou o mundo físico e muito real que todos partilhamos. Similarmente, ir muito longe no simbolismo é criar um mundo "dualista", no qual o símbolo é mais importante do que a vida em si mesma; tanto por vagar somente no físico, ou apenas no simbólico, é um erro da razão (esses aproximadamente correspondem ao judaísmo e cristianismo, respectivamente). Entretanto, esse tipo de pensamento está além de tudo, menos de alguns poucos, como as hordas de pessoas que criticam esse site por ser niilista e ainda ousam em acreditar em qualquer coisa além de fatalismo. Os mais educados desse tipo são os devotos de Russel-Wittgenstein, que essencialmente são vítimas do esquema fraudulento (419) mais avançado na história da filosofia; dito que aquela linguagem é frágil e ainda erra, eles são convocados a investir sua crença completamente no subjetivismo, e através disso alcançar provas concretas da veracidade da não-verdade. A filosofia Zen oferece uma visão mais benevolente nesse insight, uma que é sábia o bastante para não se expressar em linguagem, mas para se basear numa experiência crua - e as vezes, o mestre Zen nos dá um tapa - para reforçar que a realidade, por si só, é claro que é real. Niilismo é um portal para se apreciar o que é inerente. Sendo máquinas pensantes isoladas em nós mesmos, somos contra-intuitivamente isolados da realidade da vida, e o nosso erro mais comum é ser o apanhador esperando a bola no lugar errado ou o lançador, cego pelo sol, jogando para o lugar errado. Não é uma linearização ou uma moralização definir que a espera da bola está no lugar errado em ambos os casos; literalmente, os humanos envolvidos foram enganados a crer em suas próprias percepções muito mais do que na realidade externa, que é a força responsável pelo espaço e tempo e, é claro, por todas as outras tendências naturais que fazem o jogo possível. Esse é o chão do inerente. A vida por si só é indefinível, exceto quando nós restringimos os parâmetros de definição para sermos muito estreitos. A existência pode ser um termo melhor, mas eventualmente até mesmo ela é predicada sobre uma lei natural e a "realidade" vindo a ser em primeiro lugar, a um nível mais baixo até mesmo do que o físico: que as leis naturais existem tanto que a matéria é até concebível, ou que a regularidade ou lógica mesmo existindo, predique o ser da matéria. O que Aurélio apóia logo acima é a aceitação da natureza da existência, mas o entendimento de que significado não existe, a não ser que seja nas nossas mentes: é uma abstração baseada no inerente, que inclui a vida em si. Uma outra forma de colocar isso é dizer que nós achamos que a vida é boa quando percebemos que ela tem significado, que é um fator da vida ser bem vivida, ou ser "boa", em primeiro lugar. É um loop gigante se alguém se aproxima disso linearmente, mas em termos naturais, faz sentido. Nosso ambiente nos garante a existência, e então ou nos adaptamos a ela ou vivemos em nossos próprios mundinhos de fantasia, onde somos capazes de se adaptar, derivando prazer de ter combinado nossos próprios desejos com suas tendências - bem como pegar a bola jogada por um outro ser perceptivo e transportada de acordo com as forças naturais através do espaço e do tempo às nossas mãos. Essa é a natureza do inerente, e não há nada maior ou menor que isso. Para chegar nesse nível, entretanto, precisamos primeiro ir ao rito de purificação do niilismo, por qual todo "significado" como nos contado pelos outros ou "parecendo" pra nós fisicamente, é removido. Não é sexo o que dá sentido a vida; o relacionamento entre duas pessoas é que dá, pois o prazer é passageiro e não pode por si só amenizar a dor (realmente, como qualquer maconheiro pode te falar, mesmo o tesão absoluto de estar gloriosamente chapado perde o tesão com o tempo, mesmo por que isso nunca muda). Pra contrabalançar, entretanto, o simbolismo de amor ou pureza ou castidade igualmente não confere realidade; são percepções partilhadas do inerente e não o inerente em si. Somente o inerente importa, e cada um de nós pode vê-lo variando os graus, dependendo de nossa habilidade. Definições adicionais do inerente podem ser achadas na vida transcendendo "o dualismo mente/corpo"; a maioria abraça a mente, e as abstrações que consideramos reais como "bom" e "mal", uma aproximação mecanicista de análise da vida, e reconhecer o valor do inerente é "valor para o todo e para si-como-parte-do-todo"; não podemos separar nós mesmos do todo, nem vê-lo como algo independente de nós. O meio nos criou e nos equipou com tudo o que sabemos e mesmo no niilismo podemos reconhecer uma refutação de fatalismo: nós somos seus agentes e o que fazemos muda o curso do futuro, variando graus de acordo com as nossas habilidades. Então nós chegamos percepção mais espinhosa do niilismo: não, meus queridos, nós não somos "iguais", nem mesmo num sentido cosmológico ou em habilidade. Alguns são mais inteligentes, outros mais fortes, outros de melhor caráter e perceber isso é deixar de lado a grande ilusão social que bloqueia o niilismo. O bando de gente que não pode perceber o inerente, ou por causa de seu estado indiferente ainda o negam, gostariam que nós pensássemos em termos de igualdade, tanto que poderíamos tomar parte de uma "verdade" devota, onde repetir algumas palavras simples nos elevariam - igualmente - ao nível de conhecimento sagrado. A natureza é real, e na natureza, muitos nascem e poucos sobrevivem; esse é um método infalível de produzir melhores versões do organismo de cada geração, que significa que para aqueles que irão viver no futuro, a vida será melhor do que no passado. Niilismo é uma porta de entrada e não é sábio tentar sumarizá-lo num artigo bonitinho que alguém vai poder ler na internet durante o almoço, sem dúvidas antes de retornar a uma tarefa estimulante como mandar um fax, consertar carros, fazer discursos ou limpar banheiros. Filosofia para as pessoas preocupadas com exatidão é uma tarefa esotérica, e se revela lentamente, através de experiência, e qualquer tentativa de fazer um atalho disso é igualdade devota e ilusão. Mas para aqueles que o "significado" normal da vida é cinza e sem forma, uma porta de entrada convidativa é colocado nesse artigo; acredite em nada, para que você possa achar o algo que realmente tenha significado. June 29, 2006 - Translated by Dora.
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